quarta-feira

Saiba como educar as crianças para uma navegação segura na internet

Saiba como educar as crianças para uma navegação segura na internet

Quando as crianças começam a usar a internet, é natural que surjam dúvidas sobre como protegê-las no ciberespaço. Adotar filtros de segurança ou deixar que naveguem livremente? Monitorar a navegação ou confiar na educação? Manter o computador na sala ou levá-lo para o quarto? Conversar abertamente sobre os perigos ou tratar a questão de forma velada? Cadastrar os pequenos em redes sociais ou proibi-los de acessar essas páginas? Navegar junto ou deixar que eles descubram o universo virtual sozinhos? Limitar o tempo de uso ou permitir que a criança navegue até cansar?

Doutora em educação, Maria Beatriz Loureiro de Oliveira acredita que os pais não estão fazendo a lição de casa e fala em “omissão” quando o assunto é instruir as crianças sobre a navegação on-line.“É pequena a quantidade de pais e mães que estão realmente preocupados com o que seus filhos fazem na web e com o conteúdo que acessam. Talvez isso aconteça porque os adultos não estejam muito atentos aos perigos da internet”, considera a psicopedagoga da Unesp de Araraquara.

Para Maria, a resposta ao desafio está na participação dos adultos no universo virtual, onde as crianças inevitavelmente já estão inseridas. E nesse contexto em que é necessário conhecer novas ferramentas, sites, programas e até formas de se relacionar, a função de ensinar pode ficar para os mais jovens. “Os pais podem se sentar com os filhos em frente ao computador para aprender mais sobre a internet. Quando participa, o adulto passa a fazer parte do mundo da criança”, diz a psicopedagoga, que gosta de assistir a vídeos no YouTube com seus dois filhos, de 37 e 27 anos.

De fato, como aponta a especialista, a tarefa de educar na era do ciberespaço não tem se mostrado simples. Um estudo divulgado recentemente pela empresa de segurança Symantec indica que os pais brasileiros se sentem mais preparados para discutir sexo com seus filhos do que para abordar as páginas visitadas por esses menores durante a navegação. Ou seja: pode estar mais fácil falar sobre o uso da camisinha do que sobre aquele amigos fakes que os jovens insistem em adicionar no Orkut.

Bê-a-bá

Para a psicóloga Andréa Jotta, ensinar as crianças sobre o uso seguro da internet faz parte do “pacote” que envolve outras questões relacionadas à educação. “Os pais devem estar cientes de que o universo virtual não é o terror do mundo contemporâneo e que seus filhos precisam de orientação para navegar”, diz a especialista do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

Segundo Andrea, os cuidados dos pais em relação ao universo virtual devem ser parecidos com aqueles já tomados no mundo off-line: se a criança é instruída a não conversar com estranhos na rua, por exemplo, a mesma regra vale para os sites onde ela navega. “A internet pode parecer um espaço privado, pelo fato de ela estar dentro de casa. Mas trata-se de um ambiente público, pois abre uma janela para o mundo lá fora”, reforça.

Djalma Andrade, coordenador do Movimento Internet Segura, tem a mesma opinião. “Muitos pais consideram a web um mundo virtual, quando na verdade é uma extensão de nossa sociedade. Qualquer ação executada na internet pode trazer resultados positivos ou negativos, dependendo dos fatores envolvidos.” Por isso, Andrade defende que os adultos -- mesmo aqueles que torcem o nariz para novidades tecnológicas -- se informem e participem do universo virtual. Somente assim será possível entender as oportunidades e desafios dessa extensão do mundo virtual cada vez mais habitado pelas novas gerações.

Não faltam alternativas para conhecer mais sobre o ciberespaço e saber como ele pode ser incorporado de forma responsável à vida das crianças. A ONG que defende os direitos humanos na internet, citada no início deste texto, tem uma cartilha que explica conceitos básicos da web, além de dicas de segurança para diferentes grupos de internautas. A navegação com foco nas nos pequenos também tem espaço no site Navegue Protegido, em um guia da Microsoft e na página do Movimento Internet Segura, entre outras opções.

Bate-papo

O pacote da participação também inclui conversas familiares sobre a web (justamente aquele assunto que, segundo o estudo da Symantec, está tão difícil de ser abordado).

Nessa hora, os especialistas ouvidos pelo G1 são unânimes: o tema tem de ser tratado às claras, abordando os aspectos positivos e também os negativos do ciberespaço. É, sim, para falar de sites e programas legais.

E também é importante deixar claro a existência de pessoas com intenções ruins, que parecem boas na tela do computador – somente desta forma, a criança terá informações para procurar seus pais, casos suspeitem de comportamentos, textos e até imagens divulgadas por desconhecidos.

Outra unanimidade é em relação à criação de uma rotina e de regras para o uso do computador. Com isso, a hora de usar o PC, com tempo pré-estabelecido e combinado entre as partes, soma-se à hora do banho, à hora de comer, à hora da lição, à hora de dormir e à hora de brincar. “Para a criança, o computador é uma forma de lazer, como a televisão e o videogame. Por isso, seu uso deve estar sempre atrelado ao cumprimento das obrigações”, ensina Andrea, da PUC-SP.

Para facilitar a criação e cumprimento das regras, a Safernet dá dicas sobre como pais e filhos podem elaborar, conjuntamente, um acordo sobre o uso seguro e saudável do ambiente virtual.

A psicóloga acredita ainda que, com a popularização dos netbooks (notebooks de dimensões e capacidades reduzidas), os computadores se tornarão cada vez mais “brincadeira de criança”. Mesmo com a adoção dos portáteis, ela defende que até os 12 anos não existe a necessidade de os internautas transportarem seus computadores para fora de casa, ambiente onde podem ser monitorados constantemente por seus responsáveis.

E outras dicas que tirei do site: Educadores e a Geração Interativa

INTERNET

Para os pais
Seja um “navegante”: Acesse a rede e descubra todas as suas possibilidades
Sempre que possível, navegue com os seus filhos
Coloque o computador em um espaço comum da casa, para que todos tenham acesso e possam acompanhar o que as crianças e jovens estão fazendo
Conheça a lan house que o seu filho freqüenta e verifique se é um ambiente adequado para crianças e jovens

Para os jovens
Nunca opte pela funcionalidade “lembrar a minha senha”
Ao sair de um site ou comunidade virtual que exija o uso de senha, certifique-se de fazer o logout antes de fechar a janela
Nunca abra a webcam para um estranho
Só aceite convites de pessoas conhecidas para conversar no messenger

CELULAR

Para os pais
Oriente o seu filho a não dar número de celular a desconhecidos e a não divulgá-lo nas redes sociais, como Orkut, Twitter, Facebook
O celular também pode ser usado para fazer bullying ou assédio escolar. Por isso, fique atento

Para os jovens
Cuidado ao divulgar fotos pessoais por SMS
Com os seus pais, crie um espaço em casa para guardar os celulares desligados e aproveite o tempo em família

TELEVISÃO
Para os pais
Enquanto seus filhos fazem seus deveres de casa, desligue a televisão
É recomendado não colocar uma TV no quarto das crianças já que isso pode incentivar o isolamento do jovem e colocar em suas mãos a decisão sobre o que ele pode ver a que horas

Para os jovens
Respeite a idade mínima do programa a ser assistido
Não deixe de brincar ao ar livre, ler ou estar entre amigos para ver TV

VIDEOGAME

Para os pais
Monitore o tempo que as crianças gastam com jogos eletrônicos
É fundamental conhecer os jogos que as crianças utilizam e a qual tipo de conteúdo elas estão expostas

Para os jovens
Quando utilizado em excesso, o videogame pode levar ao isolamento de quem joga, afetando as sua relações pessoais e prejudicando seu desempenho escolar
Os jogos de videogame podem ser “viciantes”

Juliana Carpanez Do G1(canal de notícias da globo.com)

Dia do Desafio!


COLÉGIO PEQUENO PRÍNCIPE - 29.05.2013

domingo

Bullying

Um ou mais alunos xingam, agridem fisicamente ou isolam um colega, além de colocar apelidos grosseiros. Esse tipo de perseguição intencional definitivamente não pode ser encarado só como uma brincadeira natural da faixa etária ou como algo banal, a ser ignorado pelo professor. É muito mais sério do que parece. Trata-se de bullying. A situação se torna ainda mais grave quando o alvo é uma criança ou um jovem com algum tipo de deficiência - que nem sempre têm habilidade física ou emocional para lidar com as agressões.

Tais atitudes costumam ser impulsionadas pela falta de conhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em boa parte, pelo preconceito trazido de casa. Em pesquisa recente sobre o tema, realizada com 18 mil estudantes, professores, funcionários e pais, em 501 escolas em todo o Brasil, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) constatou que 96,5% dos entrevistados admitem o preconceito contra pessoas com deficiência. Colocar em prática ações pedagógicas inclusivas para reverter essa estatística e minar comportamentos violentos e intolerantes é responsabilidade de toda a escola.

Conversar abertamente sobre a deficiência derruba barreiras
Foto: Marina Piedade
SANTO REMÉDIO A professora Maria de Lourdes falou com toda a turma sobre a deficiência de um colega. Foto: Marina Piedade "Resolvi explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe. Falamos sobre isso numa roda de conversa com todos." Maria de Lourdes Neves da Silva, professora da EMEF Professora Eliza Rachel Macedo de Souza, em São Paulo, SP
Quando a professora Maria de Lourdes Neves da Silva, da EMEF Professora Eliza Rachel Macedo de Souza, na capital paulista, recebeu Gabriel**, a reação dos colegas da 1ª série foi excluir o menino - na época com 9 anos de idade - do convívio com a turma. "A fisionomia dele assustava as crianças. Resolvi explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe. Falamos sobre isso numa roda de conversa com todos (leia no quadro abaixo outros encaminhamentos para o problema). Eles ficaram curiosos e fizeram perguntas ao colega sobre o cotidiano dele. Depois de tudo esclarecido, os pequenos deixaram de sentir medo", conta. Hoje, com 13 anos, Gabriel continua na escola e estuda na turma da professora Maria do Carmo Fernandes da Silva, que recebe capacitação do Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (Cefai), da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e está sempre discutindo a questão com os demais educadores. "A exclusão é uma forma de bullying e deve ser combatida com o trabalho de toda a equipe", afirma. De fato, um bom trabalho para reverter situações de violência passa pela abordagem clara e direta do que é a deficiência. De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em São Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação desconhecida. Cabe ao professor estabelecer limites para essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização e do esclarecimento.

Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimizar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo. Esse, aliás, deve extrapolar os limites da sala de aula, pois a violência moral nem sempre fica restrita a ela. O Anexo Eustáquio Júnio Matosinhos, ligado à EM Newton Amaral Franco, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, encontrou no diálogo coletivo a solução para uma situação provocada por pais de alunos. Este ano, a escola recebeu uma criança de 4 anos com deficiência intelectual e os pais dos coleguinhas de turma foram até a Secretaria de Educação pedir que o menino fosse transferido. A vice-diretora, Leila Dóris Pires, conta que a solução foi fazer uma reunião com todos eles. "Convidamos o diretor de inclusão da secretaria e um ativista social cadeirante para discutir a questão com esses pais. Muitos nem sabiam o que era esse conceito. A atitude deles foi motivada por total falta de informação e, depois da reunião, a postura mudou."
Seis soluções práticas
- Conversar sobre a deficiência do aluno com todos na presença dele.
- Adaptar a rotina para facilitar a aprendizagem sempre que necessário.
- Chamar os pais e a comunidade para falar de bullying e inclusão.
- Exibir filmes e adotar livros em que personagens com deficiência vivenciam contextos positivos.
- Focar as habilidades e capacidades de aprendizagem do estudante para integrá-lo à turma.
- Elaborar com a escola um projeto de ação e prevenção contra o bullying.
Antecipar o que vai ser estudado dá mais segurança ao aluno
Foto: Leonardo Silva
"Passei a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado na seguinte. Assim, ele descobria antes o que iria aprender." Maria Aparecida de Sousa Silva Sá, professora do CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, PB. Foto: Leonardo Silva
No CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, a 460 quilômetros de João Pessoa, a solução para vencer o bullying foi investir, sobretudo, na aprendizagem. Ao receber José, um garoto de 12 anos com necessidades educacionais especiais, a professora Maria Aparecida de Sousa Silva Sá passou a conviver com a hostilidade crescente da turma de 6ª série contra ele. "Chamavam o José de doido, o empurravam e o machucavam. Como ele era apegado à rotina, mentiam para ele, dizendo que a aula acabaria mais cedo. Isso o desestabilizava e o fazia chorar", lembra. Percebendo que era importante para o garoto saber como o dia seria encaminhado, a professora Maria Aparecida resolveu mudar: "Passei a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado na seguinte. Assim, ele descobria antes o que iria aprender".

Nas aulas seguintes, o aluno, que sempre foi quieto, começou a participar ativamente. Ao notar que ele era capaz de aprender, a turma passou a respeitá-lo. "Fiquei emocionada quando os garotos que o excluíam começaram a chamá-lo para fazer trabalhos em grupo", conta. Depois da intervenção, as agressões cessaram. "O caminho é focar as habilidades e a capacidade de aprender. Quando o aluno participa das aulas e das atividades, exercitando seu papel de aprendiz e contribuindo com o grupo, naturalmente ele é valorizado pela turma. E o bullying, quando não cessa, se reduz drasticamente", analisa Silvana Drago, responsável pela Diretoria de Orientação Técnica - Educação Especial, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Samara Oliboni, psicóloga e autora de tese de mestrado sobre bullying, diz que é preciso pensar a questão de forma integrada. "O professor deve analisar o meio em que a criança vive, refletir se o projeto pedagógico da escola é inclusivo e repensar até seu próprio comportamento para checar se ele não reforça o preconceito e, consequentemente, o bullying. Se ele olha a criança pelo viés da incapacidade, como pode querer que os alunos ajam de outra forma?", reflete. A violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de ser um participante do processo de aprendizagem. É tarefa dos educadores oferecer um ambiente propício para que todos, especialmente para os que têm deficiência, se desenvolvam. Com respeito e harmonia.
** Os nomes dos alunos foram trocados para preservar a identidade