quinta-feira

REVISAO 2º ANO – FILOSOFIA

Sois todos irmãos na cidade (...) mas o deus que vos formou introduziu o ouro na composição daqueles dentre vós que são capazes de comandar: por isso são os mais preciosos. Misturou prata na composição dos auxiliares (defensores) ferro e bronze na dos lavradores e outros artesãos. Comumente, gerais filhos semelhantes a vós mesmos; mas, como sois todos parentes, pode acontecer que, do ouro, nasça um rebento de prata; da prata, um rebento de ouro e que as mesmas transmutações se produzam entre os outros metais. Por isso, antes e acima de tudo, o deus ordena aos magistrados que vigiem atentamente as crianças, que tomem muito cuidado com o metal misturado em suas almas e, caso seus próprios filhos apresentem mistura de bronze ou de ferro, que sejam impiedosos com eles e lhes concedam o gênero de honor devido à respectiva natureza, relegando-os à classe dos artesãos e dos lavradores; mas, se destes últimos nasce um rebento cuja alma contenha ouro ou prata, o deus quer que o honrem, elevando-o à categoria de guardião ou de auxiliar, porque um oráculo afirma que a cidade perecerá quando for guardada pelo ferro ou pelo bronze. Os homens que são capazes de governar possuem ouro em sua composição. A natureza do homem, o metal que o compõe, deve definir a sua ocupação. Os auxiliares (defensores, soldados) são compostos de prata.
O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) afirmava que o ser humano é por natureza um ser social, pois, para sobreviver, não pode ficar completamente isolado de seus semelhantes. Assim, constituída por um impulso natural do ser humano, a sociedade deve ser organizada conforme essa mesma natureza humana. O que deve guiar então a organização de uma sociedade? É a busca de um determinado bem, correspondente aos anseios dos indivíduos que a organizam. O homem é, a fim de garantir sua sobrevivência e uma vida feliz, feito para viver em sociedade. A sociedade é constituída a partir de uma inclinação natural do ser humano. Por natureza, a sociedade é organizada de modo a alcançar o bem comum.
A educação promovida pelo Estado deveria, segundo Platão, ser igual para todos até os 20 anos, quando dar-se-ia o primeiro corte identificando as pessoas que, por possuírem ‘alma de bronze’, têm a sensibilidade grosseira e por isto devem se dedicar à agricultura, ao artesanato e ao comércio. Estes cuidariam da subsistência da cidade. Os outros continuariam os estudos por mais dez anos, até o segundo corte. Aqueles que tivessem a ‘alma de prata’ e a virtude da coragem essencial aos guerreiros constituiriam a guarda do Estado, os soldados que cuidariam da defesa da cidade. Os mais notáveis, que sobrariam desses cortes, por terem a ‘alma de ouro’, seriam instruídos na arte de pensar a dois, ou seja, na arte de dialogar. Estudariam filosofia, que eleva a alma até o conhecimento mais puro e é a fonte de toda verdade. Aos cinquenta anos, aqueles que passassem com sucesso pela série de provas estariam aptos a ser admitidos no corpo supremo dos magistrados. Caberia a eles o governo da cidade, o exercício do poder, pois apenas eles teriam a ciência da política. Os indivíduos que tivessem sensibilidade grosseira, segundo o texto, seriam educados para formar a classe produtora. Os mais notáveis entre os cidadãos deveriam ser instruídos na arte de dialogar e viriam a se tornar magistrados ou governantes. Os cidadãos que tivessem a virtude da coragem seriam selecionados para compor a classe guerreira.
O Estado tem, por natureza, mais importância do que a família e o indivíduo, uma vez que o conjunto é necessariamente mais importante do que as partes. Separem-se do corpo os pés e as mãos e eles não serão mais nem pés nem mãos (a não ser nominalmente, o que seria o mesmo que falar em pés ou mãos esculpidos em pedra); destruídos não terão mais o poder e as funções que os tornavam o que eram. O Estado tem precedência sobre a família e o indivíduo, uma vez que estes, isolados dele, não são autossuficientes.
Pois bem!, a meu ver, a democracia aparece quando os pobres, tendo conquistado a vitória sobre os ricos, chacinam uns, banem outros e partilham igualmente, com os que sobram, o governo e os cargos públicos e frequentemente estes cargos são sorteados. [...] Em primeiro lugar, não é verdade que eles são livres, que a cidade transborda de liberdade e de franqueza de palavra, havendo nela licença para fazer o que se quer? [...] Ora, é claro que toda parte onde reina tal licença cada qual organiza a vida do modo que lhe apraz. [...] É como vês, um governo agradável, anárquico e variado, que confere uma espécie de igualdade tanto ao que é desigual como ao que é igual. [...] Ora, não será o desejo insaciável deste bem (a liberdade) e a indiferença por tudo o mais, que muda este governo e o compele a recorrer à tirania? [...] Pois então! Este governo tão belo e tão juvenil é que dá nascimento à tirania, pelo menos no meu pensar. Para Platao a democracia inevitavelmente levaria à tirania, a pior forma de governo, exercido pela força por um só homem e sem ter como finalidade o bem comum.
Se para Platão a política é ‘a arte de governar os homens com o seu consentimento’ e o político é precisamente aquele que conhece essa difícil arte, só poderá ser chefe quem conhece a ciência política. Por isso a democracia é inadequada, pois desconhece que a igualdade deve se dar apenas na repartição dos bens, mas nunca no igual direito ao poder. Para que o Estado seja bem governado, é preciso que ‘os filósofos se tornem reis, ou que os reis se tornem filósofos’. Platão propõe um modelo aristocrático de poder. No entanto, como já vimos, não se trata de uma aristocracia da riqueza, mas da inteligência, em que o poder é confiado aos melhores, ou seja, é uma sofocracia. O governo defendido por Platão não poderia ser democrático, já que, segundo ele, só os melhores possuem aptidão para governar. Platão acreditava que apenas o filósofo teria disciplinas moral e intelectual suficientes para vencer os próprios desejos. O filósofo seria o mais apto a governar, pois conhece a verdade e a essência das coisas para além das aparências.
Aristóteles subordina o bem do indivíduo ao Bem Supremo da pólis. Esse vínculo interno entre ética e política significava que as qualidades das leis e do poder dependiam das qualidades morais dos cidadãos e vice-versa, das qualidades da Cidade dependiam as virtudes dos cidadãos. Somente na Cidade boa e justa os homens poderiam ser bons e justos; e somente homens bons e justos são capazes de instituir uma Cidade boa e justa. Uma cidade justa é composta por homens que agem com justiça.  As qualidades dos cidadãos definem a qualidade das leis da cidade. A pólis reproduz os atributos morais dos homens que a instituíram.
Do mesmo modo o homem é superior e a mulher inferior, o primeiro manda e a segunda obedece; este princípio, necessariamente, estende-se a toda a humanidade. Portanto, onde houver essa mesma diferença que há entre alma e corpo, ou entre homens e animais (como no caso dos que têm como único recurso usar o próprio corpo, não sabendo fazer nada melhor), a casta inferior será escrava por natureza, e é melhor para os inferiores estar sob domínio de um senhor. Assim, quem pode pertencer a outrem, e portanto pertence, e participa com ele o bastante para aprender mas não aprende, é um escravo por natureza. [...] É evidente, portanto, que alguns homens são livres por natureza, enquanto outros são escravos, e que para estes últimos a escravidão é conveniente e justa. Aristoteles afirmava que alguns homens são inferiores e, portanto, possuem uma disposição natural para a escravidão. Por isso seria legítimo o controle que o senhor exerce sobre o escravo.
Para Platão, as três classes sociais corresponderiam diretamente aos três aspectos essenciais da alma humana.
Os lavradores e artesãos - Representavam a alma apetitiva ou concupiscível, cujos desejos promoviam a sobrevivência do corpo, mas deveriam ser supridos moderadamente.
Os guerreiros e soldados - Representavam a alma irascível, responsável pela defesa do indivíduo, que deveria manter a coragem, mas também conter a agressividade.

Os magistrados e governantes - Representavam a alma racional, capaz de conhecer a verdade e alcançar as essências do mundo inteligível.

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